terça-feira, 31 de março de 2009

A Aula do Corpo



pH

Acho que todo mundo que fez o curso nunca mais vai esquecer da importância do pH das coisas. Um ambiente alcalino gera a vida, um ambiente ácido, tira. O útero é alcalino, o oceano também.
Mas, porque temos que matar uma infinidade de bactérias que nos ameaçam, vamos promovendo a acidificação de tudo. A necessidade de manter a durabilidade dos alimentos, o cloro na água que bebemos, a poluição, tudo isso gera um ambiente ácido que dificulta o bom funcionamento do nosso sistema corporal.

Além do pH, o Günter também falou muito sobre os malefícios do açúcar e a necessidade de regular a temperatura do corpo (exatamente como as preocupações do Wayne na cozinha). Ao descrever a maneira como o homem hoje trata o seu corpo sem considerar que ele é um sistema interagindo, faz com que “we over rule the design of the body!”

Mas ele não começou pelo corpo apenas porque, já que era um curso sobre System Thinking, “the first system to understand is your body.”

Mas também para introduzir as questões que envolvem o design de um projeto sustentável. Segundo ele, é mais importante preocupar-se com o pH do que com a “eficiência ambiental”: para conseguir que um projeto tenha o pH equilibrado, você terá que considerar muito mais variáveis – o sistema como um todo – do que se utilizar apenas os parâmetros atuais para “eficiência ambiental”.

Os projetos sustentáveis são cartesianos: “Descartes nos treinou no pensamento de causa-efeito”, nós não misturamos 4 variáveis diferentes – como pH, temperatura, açúcar, nível de stress para pensar um projeto, o que seria natural num pensamento sistêmico (dá-lhe Caleidoscópio...).

“Nossa incapacidade de ver as conexões entre as coisas é a maior limitação ao pensamento sistêmico”. Uma das indicações para saber se estamos pensando de maneira sistêmica é perguntar: is it promoting life or not?
Ainda, pra terminar: o design pensando nos fluxos – de ar, temperatura, pessoas, luz, som, dejetos. Hoje fazemos decisões individuais, pensando basicamente na economia de energia e na questão dos ruídos. Mas raramente colocamos na balança todos os fluxos que devem ser considerados (“we need to overlay information”).

Field Trip


Faz parte do curso um tour pela região, mas especificamente a Dartmoore. O Stephan Harding, um dos professores e fundadores da escola guia um passeio pelo campo em que, segundo ele, se tivermos sorte, seremos “Gaied” – isto é, o “bicho de Gaia” vai nos pegar e nos inspirar a uma nova relação com esse ente que nos mantém. Fizemos alguns exercícios meditativos muito legais (ok, esses não vou descrever porque realmente parecem hippies, hahaha).

Esqueci de contar que uma cobra passou bem em cima do meu pé (mãe, não deu nem tempo de falar ssssssss)!

sexta-feira, 27 de março de 2009

Non-linear Mathematics


A Biomimicry depende do uso de “non-linear mathematics”. Um mundo onde 2+ 2 nunca é = 4, onde o nosso modelo mental nunca está confortável, simplesmente porque cresceu e se desenvolveu num mundo linear.

“We will never be sustainable if we don’t give up the straight line!”

Esse é um ramo da matemática pouquíssimo conhecido. Ou do mundo mesmo. Ele diz que a maioria das soluções que copia a natureza – e que, portanto, copiam a idéia de que, na natureza, não há lixo, “there is always full employment”, e “everybody is encharged”, depende da nossa capacidade de transitar no mundo da matemática não linear. O mundo dos vortex (s). O mundo do depende (queridos amigos do Projeto Caleidoscópio, depois do mundo não linear, que tal essa, hein?).

O que é um vórtex? Segundo a piada do Günter, o único vórtex que a gente usa em massa hoje em dia é o sistema das privadas. Uma das dificuldades de incorporar vórtex (s) às tecnologias é que eles são super difíceis de calcular, especialmente porque existem pouquíssimo “matemáticos não lineares”. Essa também é a explicação porque usamos tanto a linha reta: ela é mais fácil de calcular!

BIOMIMICRY

A primeira aula foi, na verdade, um bate-papo depois do jantar (já contei que o jantar era às 18:30? Eita dieta saudável...). Ele começou pedindo o seguinte compromisso para a semana: BE POSITIVE. Já gostei de cara, lógico, já que todo o papo de sustentabilidade vem sempre com uma carga de culpas e desastres iminentes muito grande. E ele é taxativo: de que adianta isso? É preciso ser positivo e agir. E, durante a semana, vimos que não se trata apenas de retórica, por diversas vezes vimos como ele aplica o “ser positivo” na prática.

Isto posto, ele começa a contar várias histórias de como a natureza soluciona problemas que também afligem o homem (nem preciso comentar o quanto ele é bom de contar histórias...). Por exemplo, a zebra: porque ela tem listras brancas e pretas? Bom, se me lembro bem, as pretas absorvem o calor e as brancas refletem e, resumindo uma longa explicação biológica, elas têm um sistema perfeito de controle de temperatura. Então, um novo ramo da ciência que se chama BIOMIMICRY vai lá e copia esse padrão, por exemplo, na hora de construir casas. O Günter comanda um projeto com o maior fabricante de casas no Japão que copia esse sistema zebral (vimos as fotos, as casas são bonitas, haha).

E o besouro do deserto do Kalahari que nunca tem sede? Ele tem uma cobertura que permite o acúmulo de gotículas de umidade que chegam na calada da noite e um sistema para que elas escorram direto na boca dele! A tecnologia para copiar essa habilidade besoural já está disponível, mas não é disponibilizada porque foi patenteada pelos militares, que usam o sistema nas barracas dos soldados no Iraque!

E a incrível história dos sistemas de ventilação das formigas, que foi copiado numa escola na Suécia (Laggarberg, Timraa)? A cada 30 minutos, todo o ar dentro da escola é renovado; há uma estufa com 150 espécies diferentes de plantas para limpar o ar; todo o edifício foi construído considerando as necessidades de iluminação, etc., etc., etc. Resultado: depois de 10 anos, eles conseguiram provar estatisticamente os benefícios: menor índice de absenteísmo no país, segunda colocada em desempenho escolar, menor número de doenças.

Ele contou que a maioria desses projetos, como o da escola, leva um grande tempo para sair do papel; os 10 anos para provar o que eles já sabiam eram necessários para que o sistema, como é hoje, reconhecesse algo novo e diferenciado. Ser positivo: o Günter conta isso sem ressentimento, como parte do processo natural de disseminar uma nova filosofia de mundo - agora o governo sueco, convencido, quer reproduzir várias escolas como essa. E o Will Smith também! A equipe do Günter trabalha agora com a criação do “kit” da escola, já que foi necessário desenvolver inúmeros fornecedores que fossem capazes de criar e utilizar novas tecnologias.

Primeira Semana: o incrível Günter Pauli!



Bom, o “entorno” já está colocado, agora falta contar o “recheio”, o que aprendemos no curso. Foram duas semanas, cada uma com um professor principal. Na primeira ficamos encantados, impactados, chocados, chapados com tudo o que ouvimos do Günter Pauli, um cara prá lá de interessante.

Ele já escreveu vários livros, tem muitos links e vídeos disponíveis no Google, e também o site da sua fundação: www.zeri.org , mas aqui vão nossas impressões pessoais – vou picotar em temas porque senão este vai ser o blog mais chato de se ler da face da Terra!

OS ALUNOS


No curso havia 17 nacionalidades diferentes, que eu me lembre: Canadá, EUA, Bélgica, Grécia, Holanda, México, Kirjiquistão (como se escreve?), Itália, Nova Zelândia, África do Sul, França, Peru, Colômbia e 5 brasileiros, de uma turma de 34. Como havia também 2 portugueses, pode-se dizer que a segunda língua do curso era o português! Bom sinal!

Boa parte era “MsC”, isto é, alunos de um curso de 1 ano em “Master in Holistic Sciences”. Os demais têm histórias variadíssimas, mas, em geral, trabalham em ONG’s, são consultores em sustentabilidade ou trabalham com treinamento/coaching/desenvolvimento de pessoas.

A maneira como eles estruturam o dia acaba fazendo com que todo mundo se conheça bem , pois você vive a experiência de comunidade. Eles não falam muito disso no site – acho que com medo de que sejam associados a uma coisa meio hippie. Mas não é. Você cuida do seu quarto; trabalha no jardim e colhe os vegetais para comer. Limpa o prédio principal, os banheiros. Todo dia, são 45 minutos de trabalho comunitário, em equipes de 5, divididos pelas tarefas necessárias para que a escola esteja limpa e funcionando. Esse ritual de cuidado transforma tudo, e acaba sendo parte integrante do aprendizado.

quinta-feira, 26 de março de 2009

O Prédio Principal da Escola



O edifício principal é residência dos reitores de Dartington desde 1380...

A ESCOLA - Transformative Learning for Sustainable Living



O site www.schumachercollege.org.uk tem tudo super completo sobre a escola – informações, vídeos, fotos, etc. Transcrevo aqui dois parágrafos do livro Gaia's Kitchen que resumem seu conceito:

"Schumacher College was founded in 1991 upon the conviction that the world-view which dominates Western civilization has serious limitations, and that a new vision is needed for human society and its relationship to the Earth. It seeks to promote the human-scale values in which E.F. Schumacher, author of Small is Beautiful, so passionately believed."

"Through it's work, Schumacher aims to explore, to transform and to help lay down the foundations of a new world-view. Key thinkers, writters and activists from all around the world engage with an equally international group of students to examine the critical issues of our time. Intellectual inquiry is only one part of a unified education that embraces physical work, field trips, meditation, celebration and creativity in a mosaic of learning that reflects the wholeness of life. People find refreshment - and often a new direction. They find that they have touched a source of inspiration and are reminded that there are others who share their deepest values about life and its meaning."

terça-feira, 24 de março de 2009

Copyright

As fotos das semanas na Schumacher são de Michael Beaton, de Seattle. Thanks a lot!

Consuelo na Europa

E não é que Consuelo já estreou em terras européias!? Pois na sexta-feira à noite, sem a menor cerimônia, ela resolveu alegrar a soirée, a noite dedicada “ao entretenimento como antigamente, quando uns entretinham aos outros”. Foi muito legal, divertido, ela me confessou que nunca tinha pego uma platéia tão participativa antes.

O tema da noite foi “Biologically Assisted Silicate Rock Weathering”, a incrível aula que tivemos de manhã com o Stephan Harding sobre Gaia. Com tantas noções científicas para passar, Stephan transformou tudo numa engraçada história de princesas calcáreas presas nos castelos de granito, esperando pelos príncipes de carbono para resgatá-las. Prato cheio para Consuelo! Vejam nas fotos a cena toda armada (ou desarmada???)


Ciro do Brasil e Mabel do Peru

Com Pedro, de Portugal, e Gerardo, do México

Mais Zemfira do Kirjikistão, Pin de Taiwan, Carl da Inglaterra, Mikhail da Holanda e Anna Maria da Itália

MAIS SOBRE ISSO

Visite o site www.consuelophd.com.br para saber mais sobre a Consuelo. Visite www.pop123.com.br para conhecer POP, o trabalho que ela faz em empresas.

Meu Jardineiro Fiel



Silvia da Colômbia, Ray da escola e João



O jardim labirinto

Mente Sã

A Schumacher é uma escola sem o menor pudor de falar em espiritualidade. Eu achava que era, principalmente, por causa de presença de Satish Kumar, indiano, “earth peregrim”, um dos fundadores. Mas não, é porque eles têm a visão da espiritualidade como vital na formação e desenvolvimento de um indivíduo completo = sustentável.

Mas eles vão além, e juntam espiritualidade e ciência com naturalidade, baseando toda sua visão de mundo na noção de GAIA, o ser que integra todos e tudo o que somos. Uma visão “zen-ocidental”.

O prédio principal tem, além da sala de aula, biblioteca , cozinha e refeitórios, uma sala de meditação. Uma vez por semana, Satish faz uma meditação “guiada”, para quem quer aprender (relaxe, sinta a respiração, etc.). Nos outros dias, às 7:15, todos são convidados a participar de uma meditação silenciosa de meia-hora.

A sala de meditação

Uma vez por semana Satish comanda também a cozinha. Fizemos dois jantares indianos incríveis! Difícil foi o cheiro na roupa depois – nem lavando duas vezes saiu...

MAIS SOBRE ISSO

Satish é uma figura agradável, gentil, cheia de energia. A história dele é muito interessante (aos 18 anos ele caminhou da India à Inglaterra conhecendo os líderes das nações que tinham a bomba atômica), leia mais no próprio site da Schumacher -www.schumachercollege.org.uk - ou procure seus livros na Amazon. Ele foi convidado para a conferência do ETHOS deste ano, mas não poderá ir – talvez no ano que vem.


"Chat by the fireside" com Satish

Cenas da Cozinha III

Domingo é dia de "todo mundo na cozinha". Fizemos gnocchi com os pais de um aluno italiano que estavam visitando. O "segredo": passar cada bolinha pelo garfo - exige anos de técnica!

Cenas da Cozinha II


Wayne em Ação

Aqui o Wayne está justamente sugerindo como deveríamos "trabalhar" na cozinha naquele dia.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Cenas da Cozinha


Zemfira do Kirjikistão e Berit da Noruega

domingo, 22 de março de 2009

Corpo São

Demorei para colocar o blog no ar, acho que, principalmente, porque tinha tanta coisa para contar sobre a primeira semana de curso na Schumacher College que não sabia por onde começar. Então decidi começar pela coisa mais marcante – e talvez mais estruturante – da temporada aqui: a COMIDA.

WAYNE, o cozinheiro. Ou melhor, Wayne, o filósofo. Comida e filosofia – de vida. Em 20 minutos numa cozinha simples e aconchegante, esse sul-africano de cabelo engraçado nos apresenta toda a sua visão de mundo e da comida: os cuidados com a temperatura, a busca pelos alimentos alcalinos, os níveis de energia que podemos obter, a relação com o ambiente, comida natural, orgânica, fair trade, sentir a comida ao invés de pensar em comida.

Não é à toa que tudo é simplesmente delicioso, nutritivo, uma alegria para os sentidos. Eu até tomei sopa, todos os dias (meu lado Mafalda apareceu apenas no dia da intolerável sopa de beterraba)! Resultado: muita energia, disposição, corpo aquecido, leveza.

O interessante é que a escola realmente consegue viver o que prega. Não se trata de sustentabilidade em primeiro lugar, trata-se de indivíduos conectados com a terra, com aquilo que faz bem; trata-se de pensar e sentir por que, afinal, temos um compromisso com o planeta.
Quatro parágrafos e sinto que não consigo traduzir um décimo do que é legal cozinhar com o Wayne...

MAIS SOBRE ISSO
Procure na Amazon pelo livro de receitas da escola: Gaia's Kitchen - Vegetarian Recipes for Family & Community, de Julia Ponsonby and friends at Schumacher College.