terça-feira, 15 de dezembro de 2009

HU: Dia do Crachá (dia 8)

Hoje tive uma idéia inspirada por um “achado” da minha mudança: um grande pacote de crachás, usado em um workshop no distante 2005 (eu sabia que um dia iriam ser úteis!). O fato é que seria o dia da chegada dos novos residentes – mais um montão de gente para guardar o nome - nada mais natural do que organizar um pouco as coisas!

Fui para o hospital munida do meu material de pintura, umas 10 canetinhas coloridas, e todas as minhas habilidades artísticas, muita parecidas com as culinárias... Já na porta fiz o teste com a sorridente Andrea, que disse que gostou (embora não estivesse usando o crachá quando saí...).

Mas o fato é que a idéia fez sucesso mesmo, pois passei as duas horas inteiras fazendo crachá para todos do andar! Eu disse que a culpa era deles se não atendi ninguém!



Todo mundo encrachazado: Eliane,Katia, Leda, Katia e Camila (muitas Katias e muitas Camilas no andar!).

HU: Dr. Aleksander



Dr. Aleksander é, até onde Consuelo foi capaz de entender, chefe de todo mundo por ali. Talvez porque ele seja muito grande, talvez porque o cabelo dele imponha respeito, o fato é que os residentes tinham olhares apreensivos no dia do nosso primeiro encontro.

E eu descobri que não era pra menos, já que ele ficava me repetindo que seria “impossível” conseguir que ele entrasse em qualquer brincadeira. Foi uma dureza! Tentei de tudo, no final só me restou cantar a música do Missão Impossível...

Mas o fato é que Dr. Aleksander, em sua “recusa” em entrar nos jogos, acabou funcionando como um “contra-jogo”, já que, cada vez que ele recusava, mais a Consuelo se desesperava, mais as pessoas riam. Uma pessoa de fora poderia achar que ele não entrou na brincadeira, mas na verdade ele foi muito generoso, pois topou fazer o papel do “Branco”, aquele que manda no palhaço “Augusto”, fazendo com que a cena aconteça.

Pensem em Didi & Dedé, o Gordo e o Magro, Jerry Lewis e Dean Martin, etc. Todo palhaço precisa dessa figura que arma, que desafia, justamente para que ele possa “cair”, ou desafiar também.

Outro dia a enfermeira Érica também me ajudou: ela ficava dizendo que era mais amiga do Dr. Lotufo (o diretor do hospital) do que eu. Foi sensacional, pois daí surgiu um tempão de cena, de graça para as pessoas que estavam nos ouvindo (é preciso mencionar que eu, com certeza, sou mais amiga dele do que a Érica, como provam meus telefonemas para a Sonia!).

Acho que vou começar a convidar o pessoal do hospital pra trabalhar comigo!



Consuelo tentando fazer Dr. Aleksander entrar na sua... Missão Impossível!



Hora do sufoco!



Ele manda, manda, e depois só supervisiona...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

HU: Reencontros

Já comentei em outro post que fico torcendo para reencontrar os pacientes, mas também torcendo para não vê-los mais, sinal de que já melhoraram e foram para casa... Pois hoje, como ficou perto da última visita, reencontrei vários deles, pois ainda não deu tempo de recuperarem-se plenamente. Realmente é uma delícia, principalmente os simpaticíssimos S. Benedito e a filha Isabel, dona Galina, Adilson, e o Tony.

Paredes Invisíveis

Pela primeira vez notei com clareza a parede invisível que separa médicos de enfermeiras. Tentei de todas as maneiras que todos estivessem na sala para a despedida dos residentes, mas as enfermeiras não iam, diziam que “já, já”, ou que estavam “só terminando” alguma coisa.

Como elas vivem mesmo correndo prá lá e prá cá, sem tempo para nada, acreditei. Tive que começar sem elas, à exceção de uma. Mas não é que, depois que os médicos foram embora, elas pararam tudo e foram fazer o segundo round da festa?

Bem que eu achei que tinha uma coisa diferente no ar, e acho que era a falta de jeito de todo mundo, já que a Consuelo não percebeu que existe uma certa ordem das coisas, e não parava de insistir para “todo mundo ir pra salinha”...

Agora vou começar a investigar essa história a fundo...

HU: A Despedida


Dr. Gilberto, Dra. Adriana, Dra. Patricia e Dra. Carla-Célia-Regina, mostrando que sabem lidar com aparelhos mais complexos do que o Littmann


Dr. Celso, sempre compenetrado atrás da foto...


Até agora estamos examinando se isso era um cachorro ou que outro tipo de bicho...


E tudo começou por causa dessa meia...


Lindooos!


Lindaaas!

Já que não tem jeito, os residentes vão mesmo embora, a solução foi fazer disso uma festa: levei bexigas, bolo, chapéus e até um discurso para me despedir da turma.

O figurino também foi de festa, combinei tudo com a meia que a Célia Regina me deu. Coloquei vestido, chapéu chiquetérrimo, foi o maior sucesso – e o maior calor também, acho que perdi uns 2 quilos, haha.

Apesar da minha apreensão quanto ao bolo (minhas habilidades culinárias são, digamos, básicas – para dizer o mínimo), tudo correu bem

HU: Presente!

Hoje ganhei uma meia linda da Dra. Carla Célia Regina. Toda listrada, a minha cara! Prometi que venho com um look todo conjugado na semana que vem – fiquei arrasada com a notícia de que os residentes estão indo embora, prometi fazer uma festa de despedida!

26 Novembro, sexto dia.

HU: Aparecido

Uma gentileza, menciono-o aqui simplesmente pelo gesto bonito que fiquei observando: enquanto eu estava com outros pacientes do quarto coletivo, ele ficava ali, abanando a sua mãe com uma toalha, incansável. Carinho, atenção, e ainda sobravam alguns sorrisos para Consuelo...

26 Novembro, sexto dia.

HU: Halina

Um arraso a Halina, toda linda e chique. Bailarina, contou-me que é filha da Halina Biernacka, e aí engatamos o maior papo, incluindo demonstrações de nossas habilidades bailarinescas, para alegria dos outros pacientes que estavam na sala de TV. Em geral a situação criada vem do momento, de algo que une o palhaço e a pessoa por um pequeno instante. Mas é muito bom quando existe algo além, em que a identificação se aprofunda. Foi o caso acima, da d. Galina, e também aqui. Mais prazer para todos...

26 Novembro, sexto dia.

HU: Dona Galina

Ai que senhora mais linda! Uma russa que já vive no Brasil há mais de 50 anos, mas que ainda carrega forte no sotaque. Qual não foi a alegria dela quando viu que Consuelo sabia cantar e dançar em russo! E “Kalinka, malinka, kalinka...” pra lá e pra cá, fiquei até com medo de que ela não pudesse fazer tanto esforço, haha. Também mandei uns dobre utra e spassiva (já escrever em russo é outra história...), ela ficou super feliz e eu mais ainda. Agradeci muito aos meus amigos russos, não imaginava que um dia isso ia ser tão útil! Saudades...

26 Novembro, sexto dia.

HU: Bia

11 Novembro, quarto dia.

Um dos momentos “low” de hoje foi que não consegui brincar com a Bia, uma menina linda de uns 6 anos. Eu cheguei no fim do corredor, onde vários pacientes estavam fazendo colares de contas com a ajuda da voluntária Glória. Fiquei louca, já que adoooro fazer isso. Eles estavam muito entretidos, praticamente não me deram bola.

Talvez porque acharam que palhaço é coisa de criança e insistiam para que a Bia brincasse comigo e eu com ela, e nós duas simplesmente “travamos”... Claro que a Bia travou porque era tímida e não sabia o que fazer comigo, mas e eu! Não sabia o que fazer com ela! No fim, o jeito foi sair sem jeito, ficou um vazio completo, tema para muitas reflexões...

HU: dia 03

29 Outubro, terceiro dia.
Aiii... não fiz o post no dia, já esqueci o que aconteceu...

Mas lembro que conheci a Felícia, enfermeira chefe, que estava de férias. E fiquei pensando que deve ser uma sorte passar a vida com um nome desses, que inspira felicidade ;)

Também lembro que tive que me trocar no banheiro (é, às vezes são essas bobeiras que a gente acaba guardando), já que a sala de reuniões onde me troco estava ocupada. Além de difícil foi engraçado, pois demorei bem uma meia hora ali...

Por último, lembro também da turma de “geronto”, essa palavra nova incrível que aprendi com umas meninas muito bacanas, alunas da professora Beatriz.

HU: dia 02

Mais algumas histórias do segundo dia no Hospital da USP:

Hoje me ocorreu, em dois quartos, fazer a brincadeira do 1 a 20. É assim: uma pessoa fala 1, a outra 2, a outra 3, até o 20. O desafio é conseguir chegar no 20 tudo sem ninguém falar junto – o que acontece bastante; aí tem que voltar e recomeçar tudo de novo.
O clima estava ótimo no quarto da Elizete, Regina e Joyce. Já havíamos cantado e tocado Asa Branca, elas estavam animadíssimas. Engatei o jogo, foi muito gostoso. Pareceu-me que mudou a nossa posição: primeiro elas se sentiam “platéia”, agora éramos amigas jogando juntas.
E foi assim no último quarto do dia, também com a mulherada: tinha 9 mulheres juntas, entre pacientes, visitas e enfermeiras! Dos 7 aos 70 anos! Estávamos afinadas, rapidinho chegamos ao 17, mas aí erramos e começamos tudo de novo.
Desta vez tomei um pouco mais de coragem para abordar os quartos masculinos. Eu diria que os velhinhos são mais receptivos. Já os mais jovens – e há vários – quando me vêem, parece-me, pensam “eu mereço, palhaço de hospital...”. Mas como isso é da minha cabeça e eu não sei se é da deles, vou insistindo. Com uma turma deu bem certo, Pedro do Pará mas com sobrenome “do Monte Bahia” ria um sorrisão aberto, junto com S. Antônio. Chegou Carlos, e aproveitei para jogar minha última missão: recolher outro e prata para fazer as medalhes para a Olimpíada de 2016! Aliança, corrente, até dente de ouro está valendo para ajudar os cariocas...
O momento “crítico” do dia foi quando as enfermeiras – mais uma senhora que apareceu não sei de onde – insistiram para que eu visitasse um quarto com “precaução de contato”. São pacientes que possuem algum tipo de risco de contágio, e você tem que entrar com uma máscara. Eu realmente não queria, pois estar no ambiente hospitalar já é risco suficiente para mim, não preciso ir além... Eu tentei brincar, recusar, mas elas insistiram. Até agora não sei se era um desafio com tom de brincadeira ou se havia uma certa dose de maldade ao jogar a Consuelo na roubada (bem sutil, inconsciente mesmo, como criança quando quer ver a gente se dar mal). Estou pensando...
Hoje notei uma característica bem louca desse trabalho, que compartilhei com alguns pacientes: eu passei a semana pensando neles, querendo vê-los de novo, mas a idéia é exatamente a contrária! Ainda bem que a maioria não estava mais lá...
Quatro da tarde, hora das visitas! Desta vez, apesar do agito total, já me sentia mais à vontade, não fosse um compromisso que tinha teria ficado bem além do tempo. Mas foi bom também, ficou um gostinho de quero mais.

HU: Nelsinho

“Nelsinho”
O Seu Nelson foi uma simpatia, sorriso aberto, nem perguntei e ele já foi contando histórias. Falou dos tempos em que cuidava dos cavalos no Jóquei, explicou como se doma cavalo bravo, e até como usou suor de cavalo para ajudar uma “madame” a curar a bebedeira do marido da empregada!
Mas ele foi o destaque do dia por causa de uma coisa muito engraçada que aconteceu quando eu ia passando mais uma vez pela porta do quarto dele, quase na hora de ir embora: Seu Nelson não estava na cama e, no lugar dele, tinha um menino loirinho, lindo, sentadinho na escada que os pacientes usam para subir na cama. Foi coisa de um segundo: dei um passo para trás, cara de espanto e: “Seu Nelson!!! Como o senhor remoçou!”, “Ficou mais bonito, hein?” e por aí afora. O menino – neto e “a cara” do Seu Nelson – ria um riso muito lindo, de diversão mesmo, mas de gente tímida. Uma graça, que nem o avô.

HU: E Tudo Mais...

Ainda no primeiro dia, após as apresentações da "Mesa"...

Era hora de partir para os quartos, escolhi começar pelos individuais, provavelmente seria mais fácil. Comecei pelo do S. Mario, que estava acompanhado da esposa, a D. Sueli. Ele não era “idoso” de verdade, e foi por aí que comecei a conversa, afinal, o que ele estava fazendo ali? Os dois começaram a me contar que estavam fazendo um campeonato para ver quem tinha mais AVCs... Haja bom humor, né? Eu disse que não tinha essa prova nas Olimpíadas, que era para eles tratarem de concorrer em outra categoria, onde já se viu!

Depois eu emendei que Mario é um tipo de homem muito teimoso... que precisava se cuidar... que meu pai, Mario como ele, também andava brincando de campeonato, só que na categoria cardíaca... Quase na hora de ir embora, eu passei pelo corredor e vi D. Sueli, o filho e a filha, conversando com a médica. A carinha deles, e a conversa que peguei de orelhada “ele precisa se cuidar, senão...” fizeram com que eu me identificasse tanto com essa família, foi um segundo que me fez sentir mais “gente”, companheira de todos os humanos que estão aqui neste mundo vivendo suas histórias e dramas, muitas vezes achando que são exclusivas... Essa percepção me deixou mais leve, fiquei pensando que Deus é bem engraçado mesmo!

O primeiro quarto coletivo foi bem complicado, pois os pacientes estavam muito debilitados. S. Fernando está imóvel, boca e olhos abertos, mas nada se mexe. Conversei com ele, toquei minha caixinha de música. Não sabia o que estava fazendo, se ficava mais ou ia embora, momento de interrogação total. Fui, mas com um vaziozão no peito, o que isso significa?

Nos outros quartos coletivos tive um pouco mais de facilidade, quero dizer, pelo menos nos quartos femininos. Os homens estavam bastante frios, e, nesse primeiro dia, não tive muita coragem de enfrentar essa geleira, optei pelo mais facinho...

Em um momento, me aproximei da Elizete, outra que não era “velhinha”. Ela já estava me olhando curiosa enquanto eu estava em outro leito, tinha um olhar simpático, de quem queria uma prosa. E era isso mesmo, papeamos bastante, ficou um clima bom... Então decidi tocar a caixinha de música, “My Way”. Ficamos as duas em silêncio, ouvindo. Ela começou a chorar. Bem lá dentro me deu um segundo de desespero – “ai meu Deus, o que eu faço agora”, mas apelei pra Nossa Senhora dos Palhaços: não faz nada, uai! Então perguntei, com coragem: “por que a senhora está chorando?” E ela começou a me contar que deu saudades da família, que estava louca para ir embora, que tinham até trazido as coisas dela duas vezes mas, enquanto ela não estiver fazendo xixi normalmente, não pode ir para casa. Falou das filhas, que logo estariam ali para visitar. Foi se acalmando, contando suas dificuldades, a tristeza passou. Então eu disse que ia fazer uma “macumba” com a minha caixinha de música para o xixi sair logo, para ela ir pra casa rapidinho, fiquei tocando em cima da barriga dela, que agora ria muito.

Quatro da tarde, começaram a chegar as visitas. Achei que seria bem legal fazer essa interação, mas rapidamente percebi que tudo vira de pernas pro ar: os doentes querem a companhia, os familiares querem falar com os médicos, uma agitação total.

Consegui brincar um pouco levando as visitas para os quartos (nessa altura eu já sabia onde estava todo mundo), apresentando a família de um para o outro, mas depois decidi ir embora, pois já estava bem acabada...

Na saída não pude deixar de brincar com uma menina que estava comendo uma bandeja de sushi, era muito inusitado! Pois ela era a Desiree, filha da Elizete! Voltei então para o quarto dela, para contar que havia acabado de encontrar sua filha, e qual não foi minha alegria quando a Elizete me disse: “Olha que a sua macumba funcionou, foi só você sair que o xixi saiu todinho!”

Foi uma bela notícia para terminar, a sensação final foi muito boa. Senti que aqui nasce uma história de aprendizagem, trocas e experiências muito especiais.

HU: dia 01

07 de Outubro, primeiro dia.
“A Mesa”
Tudo pronto, toda arrumada, mala na mão, lá vou eu, ai que frio na barriga! Como chegar, como entrar no ritmo desse ambiente, dessas pessoas (quantas!) que parecem estar trabalhando tão apressadas, compenetradas? Ai, minha santa protetora dos palhaços, rogai por mim nesse instante!
Mas nem precisava tanta apreensão, nem tanta reza! Foi dar um “oi” para o pessoal que estava na “Mesa” e me deixar levar pela surpresa, pelos comentários, em dois segundos eles já estavam mandando, dizendo o que eu tinha que fazer! Foi um alívio e tanto, fora o estímulo para continuar a tarde.
A “Mesa” era composta por vários residentes (nem vou me atrever a dizer de que áreas, ainda não entendo nada de quem é quem, quem faz o que ali... tem médico, enfermeiro, fisioterapeuta, nutricionista, residentes, ajudantes, assistentes, moças da copa, muita gente mesmo!) que, em um minuto, já me deram um jaleco branco – fiquei linda! – e um “Litmann”, que, como aprendi, é um ouvidor de coração muito chique.
Fui me apresentando e perguntando o nome de todo mundo. Já que eu tinha um slogan (“Sempre um ombro amigo”), fui perguntando o deles também, e todo mundo entrando na brincadeira: Celso, um homem apaixonado; Lívia, a Marechal de Ferro; Gilberto, o quebra mão; Flávia, a metaleira; Eduardo, a vida é uma praia de nudismo; Célia Regina – esse não é o nome dela, mas o apelido que ela ganhou na hora e a Camila ficaram de pensar. Todo mundo escolheu um gesto também e demos boas risadas com essas apresentações todas.


Dr. Eduardo e minha primeira aula: a importância de ter um "Littmann Classic II"!


Eu, toda séria tentando repassar a lição do Littmann. Atrás... bem, Dr. Celso completamente compenetrado na explanação...


Dr. Gilberto, Dr. Eduardo e Dra. Adriana

HOSPITAL da USP: Benvindos ao HU!

Hoje começo a relatar o trabalho que farei no HU – Hospital Universitário da USP. Enquanto a Mônica está conduzindo um trabalho com os idosos atendidos pelo PAD – Programa de Ação Domiciliar (leia mais em www.solenta.blogspot.com), eu irei “atender” aos idosos que ficam no próprio hospital: o 5º andar, a “Clínica Médica”.

Embora a própria natureza dos dois atendimentos seja bem diferente – um é domiciliar, individualizado, familiar; o outro é hospitalar e coletivo – queremos imprimir o mesmo tom, a mesma intenção: utilizar a linguagem do palhaço para melhorar o estado geral dos pacientes e contribuir para o bem-estar daqueles que estão ao seu entorno – familiares e equipe médica.

Bom, sei que essa linguagem é muito poderosa no sentido de transformar pessoas e relações, já vivi suficientes experiências para acreditar na validade de fazer um trabalho assim. Mas confesso que ainda não sei bem se a definição “melhorar o estado geral dos pacientes” é a mais correta para o que estamos nos propondo. Quero dizer, talvez, “clinicamente”, melhorar queira dizer ajudar na cura, ou indique que estamos buscando sinais inequívocos como “ficou mais animado”, “levantou para comer”, “comeu”, etc. Creio que isso possa ser muito bom, mas talvez haja uma definição mais palhaçal para “melhora”, talvez coisas como “ficou pensando mais na vida”, ou “conseguiu chorar” ou “lembrou-se de uma música” estejam mais próximas do conceito de melhora a que estamos nos propondo.

Quanta filosofia... mas é para tentar deixar mais claros alguns dos aspectos desse universo, onde não há certo ou errado, tudo DEPENDE. Onde não se buscam “resultados”, mas sim RELAÇÕES. Onde primeiro a gente vai, depois descobre porque foi. Onde a lógica do cotidiano é DESCONSTRUÍDA, e fica um pouco mais difícil explicar os porquês...

E porque é uma linguagem específica, porque trata-se de relações, que as coisas são construídas de forma orgânica. Tenho sorte de, primeiro, ter a experiência dos 6 meses da Mônica no PAD para me guiar nesse novo mundo; segundo, de saber que a equipe do HU entende, aceita e acredita em um processo orgânico – vamos começar, e aos poucos vamos vendo qual o melhor caminho.

A idéia inicial é um trabalho semanal, toda quarta à tarde. A princípio, pensamos das 14 às 17, mas o primeiro dia já mostrou que vai ser um pouco difícil trabalhar depois das 16, quando chegam os familiares para a visita. Veremos, veremos, orgânico...