sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

HU: dia 02

Mais algumas histórias do segundo dia no Hospital da USP:

Hoje me ocorreu, em dois quartos, fazer a brincadeira do 1 a 20. É assim: uma pessoa fala 1, a outra 2, a outra 3, até o 20. O desafio é conseguir chegar no 20 tudo sem ninguém falar junto – o que acontece bastante; aí tem que voltar e recomeçar tudo de novo.
O clima estava ótimo no quarto da Elizete, Regina e Joyce. Já havíamos cantado e tocado Asa Branca, elas estavam animadíssimas. Engatei o jogo, foi muito gostoso. Pareceu-me que mudou a nossa posição: primeiro elas se sentiam “platéia”, agora éramos amigas jogando juntas.
E foi assim no último quarto do dia, também com a mulherada: tinha 9 mulheres juntas, entre pacientes, visitas e enfermeiras! Dos 7 aos 70 anos! Estávamos afinadas, rapidinho chegamos ao 17, mas aí erramos e começamos tudo de novo.
Desta vez tomei um pouco mais de coragem para abordar os quartos masculinos. Eu diria que os velhinhos são mais receptivos. Já os mais jovens – e há vários – quando me vêem, parece-me, pensam “eu mereço, palhaço de hospital...”. Mas como isso é da minha cabeça e eu não sei se é da deles, vou insistindo. Com uma turma deu bem certo, Pedro do Pará mas com sobrenome “do Monte Bahia” ria um sorrisão aberto, junto com S. Antônio. Chegou Carlos, e aproveitei para jogar minha última missão: recolher outro e prata para fazer as medalhes para a Olimpíada de 2016! Aliança, corrente, até dente de ouro está valendo para ajudar os cariocas...
O momento “crítico” do dia foi quando as enfermeiras – mais uma senhora que apareceu não sei de onde – insistiram para que eu visitasse um quarto com “precaução de contato”. São pacientes que possuem algum tipo de risco de contágio, e você tem que entrar com uma máscara. Eu realmente não queria, pois estar no ambiente hospitalar já é risco suficiente para mim, não preciso ir além... Eu tentei brincar, recusar, mas elas insistiram. Até agora não sei se era um desafio com tom de brincadeira ou se havia uma certa dose de maldade ao jogar a Consuelo na roubada (bem sutil, inconsciente mesmo, como criança quando quer ver a gente se dar mal). Estou pensando...
Hoje notei uma característica bem louca desse trabalho, que compartilhei com alguns pacientes: eu passei a semana pensando neles, querendo vê-los de novo, mas a idéia é exatamente a contrária! Ainda bem que a maioria não estava mais lá...
Quatro da tarde, hora das visitas! Desta vez, apesar do agito total, já me sentia mais à vontade, não fosse um compromisso que tinha teria ficado bem além do tempo. Mas foi bom também, ficou um gostinho de quero mais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário