sábado, 4 de dezembro de 2010

A MORTE – PARTE II



Vivi uma experiência semelhante duas semanas seguidas, devido a uma trágica coincidência: em uma semana, faleceu a mãe de uma das enfermeiras; na semana seguinte, o pai de outra. Nas duas vezes, as demais enfermeiras deram-me a notícia assim que cheguei, como que justificando uma tristeza que pairava no ar e explicando a dificuldade de brincarem, já que geralmente estão sempre tão abertas.

Nessa hora, ninguém sabe bem o que fazer comigo lá dentro, nem eu! Mas é claro que eu tinha obrigação de saber, pois se fosse ter qualquer atitude “normal” como seria esperado quando se fala em morte, não seria mais a Consuelo ali, e sim apenas a Marina.

De novo são alguns milésimos de segundo de diálogo interno, para depois simplesmente deixar qualquer coisa fluir. Fui indo, diminuindo um pouco a energia, mudando a qualidade do riso, buscando apenas ser uma boa companhia e não propor nada.
Ainda não sei se é isso, sei que o resto da tarde transcorreu como de costume, porém continua me intrigando: o que é um nariz vermelho diante da morte?

Um comentário:

  1. Como é o nariz vermelho diante da morte? Não sei, pois temos dificuldade de entender a morte, durante a vida. Usamos demais o pronome possessivo em tudo, meu, minha... e esquecemos que a vida, as pessoas pertencem ao mundo e que alguma hora, o mundo as retoma para continuar o seu ciclo, que é natural e não possessivo. Nessa hora, a simples idéia de ter um nariz vermelho lá, a possibilidade de saber que existe o riso, apesar da dor é uma grande ajuda. Claro que dentro desse riso, tem dor... mas nessa hora, a certeza da alegria nas coisas que ficam, é um remédio salutar. O nariz vermelho diante da morte? Ele existe, para nos mostrar, que apesar dela existir, a senhora impiedosa do foice, o que resta da vida pode ser mto bom e feliz. Qual o tom? ?Isso eu tenho certeza, a Consuelo sabe... e como sabe. Obrigada por existir. Bjos

    ResponderExcluir