sábado, 4 de dezembro de 2010

OBRIGADA

Outro dia entrei em um quarto onde havia uma senhora e uma moça bem jovem juntas. A senhora me deu corda, enquanto a moça me lançava um olhar quase de raiva, segundo me pareceu na hora. Quando isso acontece (na verdade foi a primeira vez que o olhar era tão duro, em geral é mais uma indiferença ou o clássico “ai meu Deus, e ainda tenho que agüentar a palhacinha...”) eu geralmente foco na pessoa que está aberta, vou jogando com ela mas sempre fazendo uma coisinha para ver se fisgo a outra, o que, em geral, acaba acontecendo. Mas desta vez nada, a menina ficou gélida até o final, e eu saí do quarto sabendo que é normal que nem todo mundo queria brincar, não é?

Mais tarde naquele dia, estava passando na porta desse mesmo quarto quando a enfermeira Isabel, que estava fazendo algum tratamento com a menina, me chamou. Eu gelei, pensei “ai não, eu já não consegui nada com ela, ela não quer, tem o direito de não ter que agüentar mais nada, e agora?”

Entrei hesitante, devagarzinho, já dando uns olhares para a senhora ao lado para ver se ela me salvava.
Mas aí aconteceu uma coisa incrível. Várias coisas incríveis. A primeira é que a Isabel começou a jogar comigo. Sim, de repente, sem combinação nenhuma, como que treinada apenas pelo tempo que temos convivido e brincado juntas, ela começou a mandar em mim, dizendo que eu tinha que mostrar o que havia na minha mala. Ela sabia que eu ia recusar, como sempre. Mas a Isabel disse que, se a menina pedisse, eu teria que abrir a mala.

E a menina continuava séria, dando aquele olhar matador para mim. Eu entrei na da Isabel, porém não tinha menor esperança que fosse sair algo dali.

Foi quando ela falou: “eu quero ver o que tem na mala”. E a Isabel: “Vai Consuelo, agora você tem que mostrar!”. Então comecei, pegando uma coisa de cada vez, brincando um pouco e logo pegando outra.

E a menina começou a rir. E queria ver mais. E mais. E a Isabel ria, e a senhorinha ria. E eu continuei no jogo, não querendo mostrar mais nada mas tendo que obedecer.

Até que disse que elas eram exigentes demais, que não tinha mais nada para mostrar, que ia embora chorar em casa, etc. etc. Eu já estava super feliz, o que tinha que acontecer já tinha acontecido, tivemos um momento divertido, gostoso.

Eu estava guardando as coisas, me despedindo, quando a menina olhou pra mim e disse: “obrigada”. Olhou muito fundo nos meus olhos, falou sincera e amorosamente. Ela não sabia, mas eu tinha desistido dela. Mas a Isabel sabia o que podia acontecer e mostrou o caminho. E as duas me ensinaram. Sou eu quem agradeço.



Depois disso eu até que concordei em arrumar um nariz pra Isabel, que agora é minha estagiária!

Um comentário:

  1. Poxa vida... estou me matando de chorar com essa história....kkkk... tô indo repassar a maquiagem....

    ResponderExcluir